Divulgação isolada gera especulação com os resultados do ENADE
A UNE critica a divulgação isolada dos dados do ENADE, o que possibilitou a especulação de seus resultados e a criação de um ranking equivocado pela imprensa
Nesta terça-feira, 3 de maio de 2005, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) divulgou os resultados do ENADE (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes), que compõe, juntamente com outros instrumentos, o novo projeto de avaliação do ensino superior do Ministério da Educação, O SINAES (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior).
Realizado em novembro de 2004, em 2184 cursos das áreas de Agronomia, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Serviço Social, Terapia Ocupacional e Zootecnia. Participaram grupos de estudantes desses cursos, selecionados por amostragem, em momentos distintos de sua formação. Um grupo, de ingressantes, composto de alunos no final do primeiro ano. Outro, de concluintes, com estudantes do último ano cursado. Pode ser descrito como um exame que toma base não o perfil do concluinte, mas o perfil do curso.
O ENADE faz parte de um conjunto de ferramentas de avaliação do ensino superior brasileiro que visa inverter a lógica mercantilista do antigo sistema, amplamente criticado, que tinha como principal instrumento o Provão.
Uma das principais críticas, incansavelmente, levantadas pela UNE, em relação ao antigo sistema de avaliação, era o _ranqueamento_ das instituições de ensino, feito pelo MEC no Governo FHC, a partir dos resultados do Provão, que estabelecia parâmetros equivocados e distorcidos de avaliação e que não cumpria seu papel fundamental, o de avaliar de maneira profunda e completa a qualidade da educação, sua estrutura e seu papel na formação dos cidadãos.
Por isso, a União Nacional dos Estudantes acredita que a divulgação isolada dos dados do ENADE, especialmente com a utilização de notas para atribuir valor aos cursos, possibilitou a especulação em torno desses resultados por parte da imprensa, o que é extremamente negativo.
Em documento redigido pelo diretor de Estatísticas e Avaliação da Educação Superior do INEP, Dilvo Ristoff, e pelo coordenador-geral do Exame Nacional de Cursos do INEP, Amir Limana, publicado no Estudantenet em (08/11/04), um dia após a realização do ENADE, já alertava que a manipulação dos resultados isolados do ENADE poderia gerar distorções: "(...)O ENADE é parte integrante deste sistema e precisa sempre ser visto nesta relação. Tomar os resultados do ENADE de forma isolada e estanque significa produzir rankings baseados em juízos apressados, sem confiabilidade, injustos com os cursos avaliados e que pouco ou nada contribuem para a melhoria da qualidade das atividades acadêmicas."
Considerado positivo por diversas entidades ligadas à educação por propor uma avaliação abrangente, sendo o ENADE apenas uma das ferramentas deste processo. E, por conta disso, a entidade critica a forma inescrupulosa e equivocada de especulação dos resultados parciais do processo de avaliação.
Para o presidente da UNE, Gustavo Petta, o ENADE não pode ter um peso totalitário e deve ser visto como mais um elemento no processo de avaliação, "por isso é totalmente equivocado atribuir nota e fazer um ranqueamento das instituições. Infelizmente, a divulgação das notas do ENADE, separadamente do restante do processo de avaliação, permitiu o estabelecimento de ranqueamento pela imprensa de modo geral", declarou.
Mike Gabriel - 30 May 2005